Ninguém gosta de ser considerado intolerante. Salvo um pequeno número de exceções, não acho que muitas pessoas sejam intolerantes conscientemente. Mas muitas pessoas são inconscientemente ignorantes – elas não percebem que suas palavras ou ações são inadequadas, imprudentes ou simplesmente ofensivas.
Bem, a ignorância não é desculpa … mas como podemos deixar de ser ignorantes? Como nos educamos sobre como interagir com todos da maneira mais adequada? Vamos reconhecer que não é uma conversa fácil de ter com as pessoas, que mesmo reconhecer que podemos precisar de ajuda para entender como ser mais inclusivos ou tolerantes é uma admissão que pode causar desconforto e decepção entre nossos colegas.
Mas, acima de tudo, vamos admitir que a pior coisa que podemos fazer é fingir que o problema não existe. Nenhum de nós pode resolver o problema da intolerância por conta própria, mas todos nós temos funções em que trabalhamos com pessoas, em equipes. Todos nós temos colegas que influenciam nosso comportamento e cujos próprios comportamentos são influenciados por nós. Portanto, vamos também reconhecer que existem algumas coisas que podemos fazer para tentar melhorar as coisas em nossas áreas imediatas de influência.
Na verdade o que quero dizer é: vamos reconhecer que há algumas coisas que temos que tentar e fazer.
As únicas coisas que importam
Em primeiro lugar, sempre que nos reunirmos como uma equipe para iniciar um trabalho, vamos entender por que estamos todos lá e o que é que nos permite contribuir para esse trabalho. Isso soa muito como uma reunião inicial para uma equipe de projeto, não é? Você sabe o que quero dizer: “Meu nome é Fabio, sou o gerente de projeto e fui convidado para liderar este projeto porque …”
Você esperaria que eu falasse sobre minhas habilidades e experiência, um pouco sobre minha formação e talvez sobre como vou abordar meu trabalho.
Você ficaria chocado se eu dissesse que fui escolhido para liderar o projeto por causa da minha idade, sexo, cor da pele, estado civil, orientação sexual, altura, peso ou qualquer outro fator totalmente irrelevante para o trabalho. E se essas coisas são irrelevantes no início, quando todos estão se conhecendo, então também devem ser completamente irrelevantes durante cada interação no projeto. Aposto que muitos que estão lendo isto são gerentes de projeto; se você é um deles e está nominalmente encarregado do projeto, precisa implementar uma política de tolerância zero para tais comentários.
Enfrentar os problemas de frente
Essa foi a parte fácil. Muitos de nós ouvimos comentários inadequados e optamos por ignorá-los. Muitos de nós rimos sem jeito de uma piada inadequada porque não queria ser visto como muito rígido ou “polícia do politicamente correto”. Cada uma dessas interações contribui para o problema. Se você não pode implementar uma política de tolerância zero para o seu projeto, praticar o restante deste artigo será impossível para você. Estou falando sério … essa realmente é a parte fácil.
Não é incomum ouvir adjetivos ou qualificadores aplicados a minorias, mas nunca é apropriado e isso deve ser tratado. Sou um homem branco heterossexual e ninguém nunca se refere a mim como heterossexual ou branco. Apenas se referem a mim como um homem. Então, por que é normal se referir a alguém como um homem negro? Ou um homem gay? Isso tem alguma relação com o trabalho deles? Claro que não, então vamos eliminar isso da conversa e avisar quando isso não acontecer. Um único exemplo de permitir que tal frase seja usada reforça a ideia de que não há problema em qualificar alguém dessa maneira.
Ser criativo
Tudo o que mencionei até agora é importante, mas nada mais é do que bom senso. Como bem diz um amigo: “O problema com o bom senso é que não é muito comum”. Entendeu? São coisas básicas.
Como gerentes de projeto, devemos ser capazes de fazer mais para promover a igualdade, a diversidade, o respeito pelos outros, etc. E devemos ser capazes de fazer isso de maneiras criativas que não focalizem o negativo. Como exemplo do que quero dizer, se digo “Não pense em um elefante”, todos vocês imediatamente imaginam um grande animal cinza com uma tromba. É muito melhor encorajá-lo a pensar em algo completamente diferente.
Podemos começar pedindo aos membros da equipe que compartilhem algo de fora do trabalho sobre si mesmos e que gostariam que as pessoas soubessem. Eu , por exemplo, sou professor quando estou fora da empresa, portanto em vários momentos os colegas se referem a mim desta maneira. Seria como um apelido, só que validado pelo apelidado… Permitir que as pessoas associem uma atividade, hobby ou característica a alguém as ajuda a ver além do que está na superfície e a entender mais sobre a pessoa “real” por baixo.
Também sinto que a criatividade pode promover a compreensão. Sempre convido os membros da equipe para compartilhar quaisquer dias ou eventos culturalmente significativos com a equipe, se assim o desejarem. Nem todo mundo compartilha e alguns simplesmente dirão que tirarão folga em algum dia devido um feriado religioso ou local. No grupo do Whatsapp, é comum os colegas postarem seus “pratos locais” ou estilos de churrasco às sextas-feiras.
A linguagem é outra forma de aproximar as pessoas. Freqüentemente trabalho com equipes cuja língua materna dos membros não é o português ou inglês. Embora não seja incomum que alguns de seus colegas tenham alguma habilidade para falar essa língua (especialmente se for mais comum), isso não costuma se aplicar aos termos técnicos. Fazer a equipe se comprometer a dizer “dependência”, “premissa” ou “restrição” em um idioma diferente por uma semana não é apenas criativo, pode ser engraçado por causa de algumas das pronúncias.
Inevitavelmente, as melhores ideias serão as que vierem de sua equipe, não de você como o gestor do projeto. Converse proativamente com sua equipe sobre as maneiras de se aproximarem. Não tem que ser focado em diversidade ou inclusão, é apenas para fazer as pessoas se sentirem confortáveis umas com as outras. Em última análise, é isso que gerará maiores níveis de aceitação.
Conclusões
Sempre me sinto desconfortável escrevendo sobre tópicos em torno da igualdade porque sou um homem branco que simplesmente não consegue se relacionar com algumas das coisas que meus colegas têm que vivenciar. Nos últimos anos, esses temas se tornaram mais comuns e, de certa forma, isso é bom porque significa que eles estão sendo mais expostos – estão sendo discutidos. Mas, de outras maneiras, me entristece saber que precisamos continuar a abordar essas questões em plena 3ª década do século 21! Já deveríamos estar muito além disso.
Os gerentes de projeto não podem resolver completamente os problemas de intolerância em nenhuma de suas formas. Mas podemos – e devemos – eliminá-los em nossas áreas de atuação e responsabilidade. Devemos reconhecer que simplesmente deixar de abordar os problemas que vemos ou ouvimos é contribuir para o problema – e desapontar nossos colegas que têm todo o direito de esperar mais de nós. E tenho que acreditar que, se dermos o exemplo certo, outras áreas de nossas organizações nos seguirão – e, algum dia, podemos parar de falar sobre o que precisa ser feito e comemorar o que foi realizado.
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